Guilherme Borba

Escritor
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BRUSQUE-SC . Textos publicados semanalmente.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015
















BRUSQUE – QUARTO DO SENHOR GERMAIN.
Na cama se via o corpo do Senhor Ivo Germain. Antes de ter a oportunidade de examinar a cena melhor, a mão de um policial agarrou-o pelo braço e o puxou para trás.
BRUSQUE – VILA GERMAIN
Todos os funcionários haviam sidos escoltados para fora da casa, e alguns sussurravam alguma coisa que Hamilton não conseguia compreender, a impressa estava no local, com reportes e policiais, sirenes apitavam, e o povo se aglomerava tentando enxergar oque acontecia lá dentro. Dois policias saíram pela porta acompanhados pela presença da ilustre Leticia Germain, que abalada carregava uma bolsa verde, semiaberta onde Hamilton havia visto alguns papeis. De nada adiantava ficar ali parado, tinha experiência com mortes, havia visto muitas na guerra, e sabia interpretar uma cena de crime melhor que esses policias que andavam pisando em possíveis pistas e cuspindo no chão. 
 Por sorte Hamilton sabia que havia uma janela quebrada no segundo andar da Vila Germain e essa informação seria útil para adentrar a cena do crime. 
O movimento tinha passado, e nenhuma alma viva estava na rua, tirando alguns cachorros sarnentos que vasculhavam o lixo. Esgueirou-se e andou abaixado ao redor da casa na tentativa de não fazer barulho, jogou a bengala na sacada e subiu na arvore que ficava ao lado da residência, esforçou-se para alcançar o andar de cima, deu um pulo ate a sacada e procurou algum utensilio para quebrar ainda mais a janela de forma que conseguisse passar, por sorte a bengala havia caído perto da janela e apenas um golpe quebrou o vidro. Com a perspicácia de não mexer na cena do crime resolveu passar primeiro pelos outros cômodos da casa, ignorando por aquele momento, o morto que jazia crucificado na cama. Abriu a porta do quarto e foi para a cozinha, viu algumas gavetas reviradas, havia uma poeira branca encima da pia, encostou os dedos e tentou cheirar, mas não emitia odor. Caminhou por entre a sala a procura de pistas e resolveu examinar melhor os utensílios que estavam nas escrivaninhas, o mesmo pó que havia encontrado na cozinha estava saindo de um jarro com pinturas florais, continha uma tampa que estava bem fechado como se alguém tivesse a forçado, retirou-a com certa dificuldade, e achou um pequeno pote branco.
 Subiu as escadas e entrou no quarto, caminhou ate o armário que estava bagunçado e abriu á procura de alguma pista, nada, somente roupas, abriu a gaveta da cômoda, e achou um envelope que continha documentos para demanda de roupas militares, escritas em português ‘’Os caixotes contendo matérias militares devem ser enviados ao Porte de Itajaí de acordo com a demanda prevista, e entregues ao navio com o símbolo de um escudo vermelho e uma cruz branca”. O documento continha uma assinatura, mas estava toda borrada, havia assinado muitos papéis da fábrica, e se não fosse pelas manchas conseguiria ler. Tinha certeza que não era assinado por Ivo. Resolveu examinar o corpo, revirou de costas e olhou dentro dos bolsos, retirou um cartão que continha um endereço riscado, como se fosse escrito por alguém que estava com muita presa, guardou as pistas no bolso, e permaneceu lá dentro durante mais uma hora, e vendo pela janela que dois homens se aproximavam da casa, resolveu sair pelos fundos.
BRUSQUE 40 MINUTOS APÓS O ASSASINTO
Voltou à lanchonete e logo Edgar o reconheceu, e puxou conversa.
- Soube que o dono da fabrica onde você trabalha, foi encontrado morto hoje de manhã, é o assunto mais falado nos jornais, tempos difíceis, creem que ele tenha cometido suicídio, hoje na lanchonete eu vi dois homens conversando, estavam falando que na noite passada, ouviram gritos vindos da residência. - Falou Edgar
-Tenho minhas duvidas, passei um bom tempo na guerra, sei que homens matam, por dinheiro, desconfio que alguma empresa rival tenha planejado o assassinato de Ivo- Disse Hamilton.
-Pra que alguém iria querer matar o Senhor Germain, ele nem sequer vendia armas para guerra, somente roupas. - Retrucou Edgar.
-Quando a situação amenizou, resolvi desvendar esse mistério por conta própria, assim que a Polícia saiu subi ate o segundo andar e comecei a estudar o local. - Hamilton colocou a maleta sobre a mesa, abriu o cadeado e mostrou os documentos. Edgar intrigado colocou os braços sobre a mesa para aproximar à visão
-Sabe oque é esse pó branco? – Perguntou Hamilton
-Não, mas Paulo deve saber, ele se formou em Medicina e tem um laboratório no porão de casa- Respondeu Edgar
-Essa era uma das coisas que estava pensando em fazer, irei aproveitar essa oportunidade para fazer um exame na minha perna machucada. Achei também esse documento rabiscado no bolso de Ivo.
-Deixe me ver. - Disse Edgar arrancando-o da mão de Hamilton
Edgar parecia abismado com aquilo, rodopiou três vezes e virou se para Hamilton
-Esse é o endereço do porto de Itajaí, não há dúvidas... Mas os produtos Germain não iam para este posto, Ivo os enviava em outro lugar. Quem for o assassino tinha acesso aos documentos da fábrica, e poderia ter conseguido os endereços de exportação por força ou sendo um hábil ladino.
-Não me resta dúvida do que devo fazer, irei fazer uma visita a Paulo, e ir atrás do Porto, se a sorte estiver ao meu lado creio que acharei os caixotes ainda sendo colocados no navio. - Respondeu a Edgar.
-Sabe onde posso arranjar um taxi? - Perguntou Hamilton, depois dessa linha de pensamento.
-Quase não existem mais franquias de taxi. Mas posso-lhe emprestar o meu carro, desde que ele volte inteiro, minha casa é numa entradinha estreita, camuflada no terreno a poucos metros da Fábrica que você trabalhava, na Avenida Primeiro de Maio...
-Obrigado pela ajuda, será de muita importância.
Hamilton agradeceu a Edgar, saiu do café e caminhou ate sua casa tirou as chaves do bolso e abriu a garagem, ligou o carro, sentou-se confortavelmente e dirigiu a Itajaí.·.
ITAJAI - CASA DE PAULO 
A noite estava fria, e uma forte chuva caia dos céus, as nuvens faziam batidas estrondosas, e o carro derrapava a cada curva, da estrada lamacenta que ligava Brusque á Itajaí. Começou a desacelerar o carro assim que viu uma luz forte se formando, aquela era a mansão de Paulo, não tinha duvidas.
 Caminhou até a grande porta, bateu três vezes com força, e logo ouviu passos, era Paulo vindo ao seu encontro.
-Ora se não é meu grande amigo Hamilton, entre é perigoso ficar ate tarde na rua após o toque de recolher- Disse Paulo calorosamente.
 Ambos entraram na casa, cercada de objetos antigos e estátuas egípcias, Paulo era excêntrico, dono do hospital de Itajaí. Hamilton ficou impressionado com a quantidade de detalhes que havia naquelas estátuas, símbolos se faziam pelas paredes que a cada cômodo mudavam de cor, a iluminação era melhor que as casas que estava acostumado a ver em Brusque, lustres acessos por velas enchiam o ambiente com luz, e uma grande lareira na sala queimava aquela noite. Pararam em uma grande porta ornamentada com um símbolo de um Dragão comendo a própria cauda. Paulo tirou uma chave enferrujada e colocou na fechadura, atrás daquela porta se via um enorme laboratório, digno de um alquimista medieval.
- Venho ate ti, lhe pedir um favor, trouxe lhe esse pó, preciso saber oque é isso.
-Claro, mas terá que esperar, creio que demorará um pouco. - Retrucou Paulo.
-Isso soa mal, mas não vou me intrometer no seu trabalho, queria que examinasse minha perna quando acabar.- Hamilton levantou a calça e mostrou-lhe o ferimento, Paulo arregalou os olhos e melancolicamente disse.
-Isso parece feio, mas vamos nós concentrar em uma coisa de cada vez, irei analisar oque você me trouxe, e depois veremos isso, sinta-se livre para descansar.
Hamilton subiu as escadas de volta à sala, e sentou-se no sofá, enquanto olhava o fogo da lareira, tentou organizar as pistas.
O assassino com certeza sabia informações da fábrica. Não havia sangue em nenhum lugar da casa, a morte provavelmente foi provocada por asfixia, o assassino teria entrado pela porta da frente ido a cozinha, subido as escadas e assassinado Ivo Germain.
Essa onda de pensamento parecia lógica, até Paulo, subir as escadas e proferir
- Isso é veneno, desça até o laboratório lhe explicarei melhor.
Ambos desceram as escadas e Paulo lhe mostrou um rato morto, com o pó branco dentro de uma vasilha. 
-Apos tentar várias vezes, decompor o pó, sem sucesso, resolvi colocar o pó que você me trouxe na vasilha de comida dos ratos, todos morreram cerca de trinta minutos depois
Hamilton lembrou se do endereço do porto, provavelmente o assassino fugiria junto com o navio, ele havia envenenado a comida de Ivo, e tentado esconder a prova no jarro, pensando que a Polícia manteria observação somente no quarto onde Ivo havia morrido. 
- Estou a um passo de pegar o criminoso, ele envenenou Ivo Germain e não o asfixiou. Vou ate o porto de Itajaí, o assassino deve tentar fugir junto com a embarcação carregada de mantimentos.
-Espere disse Paulo, você não sabe que tipo de resistência encontrará lá, leve minha pistola, poderá ser útil.
Apressado guardou a pistola em um coldre que tinha de baixo do sobretudo Preto, e ligou o carro.
Ao chegar perto do porto resolveu ir a pé à tentativa de não fazer barulho, achou o navio com o símbolo que continha a carta, esgueirando-se passou sem muita dificuldade, pois o navio já estava carregado com o material da fábrica Germain. No navio viu dois funcionários que guardavam o cais. Na tentativa de distrair os guardas atirou uma pedra na escuridão, um dos guardas saiu para averiguar o barulho, na primeira oportunidade Hamilton puxou a bengala e acertou a nuca do segundo guarda deixando o inconsciente. Rapidamente escondeu-se dentro do navio. Conseguia ouvir duas vozes que conversavam em alemão de cima do navio, em um tom de grito vindo de uma voz masculina o navio virou a estibordo, fazendo com que todas as caixas caíssem em cima de Hamilton. 
Depois de vinte minutos de viagem o navio parou.
 O navio diminui a velocidade a escotilha abriu-se e Hamilton se escondeu. Dois homens vestindo uniformes cinzas começaram a colocar as caixas para fora, Hamilton aproveitou que um dos guardas havia tirado um cigarro do bolso e subiu a polpa do navio.
Não eram possíveis às caixas estavam sendo levadas á um dirigível alemão, o mesmo que tinha lido no jornal na casa de Paulo, que passaria na cidade de Brusque.



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